terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Anita Garibaldi - A história da ocupação



No dia 19 de maio de 2001, cerca de 300 famílias, junto ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), ocuparam um terreno no bairro de Bonsucesso no extremo da periferia de Guarulhos. O MTST é um movimento de caráter social, político e sindical. O terreno ocupado, com a extensão de 1.139.000 m², era um canavial que foi comprado pelo Sr. Cláudio Malva Valente, dono do 1º Cartório de Registro de Imóveis de Guarulhos e na época estava apenas sendo utilizado como desmanche de carros, desova de cadáveres e ponto de estupro.

A ocupação foi feita de forma organizada, sendo planejada quatro meses antes. No dia 23 de maio de 2001, o proprietário entrou com uma ação de reintegração de posse. Assim, no dia 28 de maio, os sem-teto protestaram numa caminhada de 25 km, do acampamento ao centro de Guarulhos, os resultados desta mobilização foram o adiamento da ação de reintegração e uma conversa solicitada pelo prefeito da cidade, onde foram propostas soluções. Os sem-teto, então, conseguiram entrar com recurso, assessorados por advogados voluntários e quebrar esta primeira liminar. Segundo o levantamento, já com vinte dias o acampamento Anita Garibaldi foi considerado a maior ocupação de Guarulhos e uma das maiores que se teve notícia. Contando com nove mil famílias cadastradas acampadas e mil e quinhentas famílias na fila de espera.

A forma de adesão foi muito rígida, segundo João Santana, na época militante do MTST: “tem casos de pessoas que chegaram no local, colocaram suas barracas e voltaram para casa para esperar; gente que tem moradia própria e quer se beneficiar das ocupações. Todos os dias chegam famílias para acampar, mas a prioridade é para as pessoas que foram despejadas (as quais inclusive chegam com mobília) ou outros casos de pessoas sem condição nenhuma de moradia”. Ele ainda informou que tudo foi feito organizadamente, sendo divididos em trezentos grupos, com trinta famílias cada e todas com coordenadores, com barracas de lonas pretas, cada uma com um número, pois, queria que as pessoas se mantivessem unida e ativas, fazendo assim assimilarem a luta.

O Movimento Sem-Teto, cuidou da organização, seus coordenadores tinham a função de participar de reuniões e ligação entre os grupos e setores gerais. Haviam assembléias para todos, onde eram discutidas decisões e comunicados fatos importantes. Foram criados galpões escolas. No acampamento com cerca de mil e trezentas crianças, era fundamental que houvesse escolas ali no local, além, da maioria conseguir freqüentar as escolas públicas da região.
O acampamento contava com farmácia comunitária, cozinhas coletivas e uma área para doações. Existe também um sistema de coleta de lixo organizado onde o encarregado do grupo leva os sacos ao local destinado para este fim.

No centro do acampamento foram construídos galpões-escola destinados à reuniões e trocas de informações e onde são discutidos os projetos futuros. Um deles, e talvez o mais importante, é o Projeto de Hidroponia, um tipo de agricultura urbana. A intenção é construir no local uma comunidade diferente onde as necessidades básicas do trabalhador sejam supridas; moradia, trabalho e alimentação.

O pessoal da Resistência Popular tem prestado uma grande ajuda; estão acampados com as famílias sem-teto e se revezando no trabalho da construção de barracas e todo o resto do processo de infra-estrutura da comunidade, além de estarem colaborando também na arrecadação de doações.

Foi possível conhecer praticamente o acampamento inteiro e notar a força de luta e resistência dos trabalhadores que estão recuperando suas dignidades perdidas em função do sistema opressor que não lhes garante mínimas condições de sobrevivência – como a moradia. Segundo João Santana, há mais de vinte anos a prefeitura de Guarulhos não recebe a verba destinada à habitação.

Em meio à vitórias, as necessidades ainda são muitas: alimentos, água, remédios, cobertores, roupas, panelas, madeira, lonas, fios de eletricidade, produtos de higiene e limpeza, entre outros.
Em nova entrevista dada ao CMI, o militante J. do MTST, informou sobre as condições que o acampamento Anita Garibaldi enfrenta. Após 36 dias de ocupação alguns problemas novos começam a surgir. Um deles é o estado das barracas que, feitas de lonas pretas de plástico, começam a se deteriorar após tanto tempo. Outra questão são as pessoas, principalmente crianças, que apresentam entre outras enfermidades, problemas respiratórios – há muita poeira no local. O PA mais próximo está tentando atender o máximo de pessoas, o que não é suficiente. O Processo está parado na Justiça, mas os sem-teto continuam contando com o apoio do Setor de Direitos Humanos da OAB que está acompanhando o caso.

Outro ponto importante é a cobertura da ocupação feita pela grande mídia. Segundo os militantes, a grande imprensa esteve no local e aproveitou para fazer reportagens difamando o acampamento. Um exemplo é a Folha Metropolitana que escreveu que o local funcionava como centro de prostituição. Esses fatos contribuíram para que a população local se posicionasse contra a ocupação. Conforme o militante J. afirmou, por tudo o que acontece em Guarulhos – e até mesmo um assalto no distante centro, por exemplo – o acampamento Anita Garibaldi acaba sendo culpado. Não é dada, pela grande mídia, a importância devida à maior ocupação de que se tem noticia e, quando o acampamento é retratado, aparece a maquiagem que a imprensa dá aos fatos que são modelados de acordos com interesses próprios.

No dia 17 de junho aconteceu um ato político no local. Algumas carreatas saíram de São Paulo e de outras partes do país e garantiram a presença de sindicatos, entidades, alguns partidos políticos, parlamentares e vereadores que, discursando em cima de um carro de som, disseram apoiar a causa. Foi um dia de festa onde estava presente um grande número de acampados – que hoje somam cerca de 12 mil ao total – que em coro gritavam palavras como: “MTST a luta é prá valer!”.

O acampamento não conta com apoio estadual nem federal. A única ajuda que obtém do governo municipal, que é o abastecimento de água com três a quatro carros pipa por dia, foi conseguida após os sem-teto ameaçarem comparecer ao centro de abastecimento mais próximo
 

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